A função será colocar na mesa os parlamentares envolvidos em projetos de lei. (Foto: Beto Barata/PR)
O Google contratou o
ex-presidente Michel Temer (MDB) para reforçar a pressão no Congresso Nacional
em favor dos interesses da empresa. A companhia e a Meta – controladora do Facebook,
do WhatsApp e do Instagram – lideraram uma operação de ameaça e lobby, entre
abril e maio deste ano, para derrubar o Projeto de Lei 2.630, o PL das Fake
News, da pauta do Legislativo.
Conhecido pela habilidade de
transitar entre nomes da direita, da esquerda e do centro, Temer foi escolhido
pelo Google para “construir pontes”. Discreto e com perfil negociador desde os
tempos nas fileiras da Câmara dos Deputados, o ex-chefe do Executivo atua para
aproximar os executivos da empresa aos deputados e senadores.
O ex-presidente não atuará como
advogado ou representante da empresa. A função será colocar na mesa os
parlamentares envolvidos em projetos de lei, como o chamado PL das Fake News,
por exemplo, e os executivos.
“Assim como outras empresas e
entidades, contratamos agências e consultores especializados para ajudar na
mediação dos nossos esforços de diálogo com o poder público para podermos levar
nossas contribuições a políticos e parlamentares, especialmente, em questões
importantes e técnicas como a construção de novas legislações”, diz o Google em
nota. Procurada, a assessoria de Temer disse que ele não iria se manifestar
antes de voltar ao Brasil de uma viagem a Portugal.
O ex-presidente já atua para a
big tech há três semanas. A primeira reunião marcada por Temer foi entre o
deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP), relator do PL 2.630 na Câmara, e a
representante da empresa.
Temer presidiu a Câmara dos Deputados por três
vezes. A experiência no Legislativo garantiu ainda a nomeação dele, enquanto
era vice da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), para atuar na articulação
política do Planalto.
Lobby
O Google e a Meta atuaram
fortemente, ao longo de 14 dias, para deputados se posicionarem contra o PL das
Fake News, com ameaças de retirar conteúdo das redes sociais e disseminação de
uma campanha de ataques às contas deles na internet.
O presidente da Câmara dos
Deputados, Arthur Lira (PP-AL), admitiu que a proposta não avançou na Casa por
uma “mobilização que ultrapassou os limites do contraditório democrático”
capitaneada pelas big techs. As declarações foram feitas no IX Fórum Jurídico
de Lisboa. A empresa sustenta que atua dentro dos limites legais.
“Uma mobilização das chamadas
big techs, que ultrapassou os limites do contraditório democrático, ao lado da
interpretação de alguns quanto a possíveis restrições à liberdade de expressão,
não nos facultou reunir as condições políticas necessárias para levar este
projeto à votação”, disse Lira.
A nova lei em discussão no
Congresso pretende regulamentar as plataformas digitais pela primeira vez no
Brasil e foi encabeçada por Lira. Os deputados aprovaram um requerimento de
urgência do projeto de lei no dia 25 de abril, acelerando a tramitação, com apoio
do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Lira pautou o texto no dia
2 de maio, mas recuou sob o pretexto de que o governo não tinha votos para
aprová-lo.
O projeto, cuja votação foi
colocada em regime de urgência em abril, atualmente está parado. A proposta
legislativa obriga as plataformas a remunerarem conteúdo jornalístico e prevê
um sistema rigoroso de multas e sanções no caso de disseminação de notícias
falsas.
Por meio de nota, o Google
disse que defende o debate sobre medidas que possam combater a desinformação.
Sustentou ainda que “o exercício das relações governamentais está baseado na
liberdade de expressão e de associação”.
A Meta disse que mantém
contatos frequentes com parlamentares e integrantes do governo. “Nossos times
se reúnem regularmente com parlamentares, representantes do governo e do
Judiciário, sociedade civil e acadêmicos no Brasil e no mundo. Acreditamos que
esse diálogo contínuo é importante para construção de regulações claras e
consistentes para todos”, diz a empresa.
Fonte: Jornal O Sul