É com dois cavaletes, muita habilidade e experiência, que a família Kistenmacher, de Entrada São Martinho, interior de Santa Cruz do Sul, preserva um trabalho que grande parte dos fumicultores da região já passou, o de atar fumo de forma manual. Mesmo com a chegada das  tecedeiras, que tornaram o serviço mais prático, ainda existem produtores que tiram o sustento do tabaco com uso do tradicional modelo.

Ao chegar na morada da família, o rotineiro barulho das agulhas das máquinas no galpão é substituído por muita conversa e risadas. Com um sorriso estampado no rosto, o casal Renato Kistenmacher, e Angelina, ambos de 58 anos,  conta que dedicaram durante a vida toda seu trabalho na produção de tabaco. Junto deles, o irmão de Renato, Rogério Kistenmacher, de 56 anos, também fica auxiliando no galpão na hora de atar. Com anos de  experiência, a vó dos irmãos, Eliria Kistenmacher, de 72 anos, eventualmente ajuda nessa hora. Neste ano, o casal plantou 20 mil pés e Rogério, 14 mil. Embora cada um tenha sua lavoura, o espírito de união prevalece na família, que realiza todo o processo em conjunto. 

Escolha pelo modelo antigo

Curiosamente, o fumo colhido na propriedade antes de ser atado, é organizado e colocado sobre uma tecedeira - que não é utilizada há mais de 10 anos. O fato inusitado é reflexo de uma não adaptação da família ao modelo usado atualmente, com máquinas que tecem as folhas de tabaco na máquina, com agulhas e linha. 

Segundo Renato, após terem adquirido a máquina, o resultado não foi bem o esperado. Com o equipamento sofrendo constantemente problemas, e o tabaco sempre quebrando muito, a família deixou de lado a máquina e decidiu voltar para o que sempre fez, desde muito cedo. “É uma questão de costume, vimos que não deu muito certo com a tecedeira, e então decidimos voltar para o tradicional. Mesmo que demore mais, as folhas secam muito bem e ficam mais firmes, elas não caem das varas durante a cura, o que pode causar incêndios caso caiam sobre os canos”, explica o fumicultor.

Quanto tempo leva pra encher uma fornada?

Ao saírem logo ao amanhecer, Angelina conta que até meio-dia dois reboques são colhidos. Assim, durante a tarde, os trabalhos se voltam para atar o fumo nos cavaletes, que são uma estrutura simples, mas muito importante no processo. Em um forma convencional, com cerca de 500 varas, a família leva dois dias e meio para concluir todo o processo: colheita, atar o tabaco e o pendurar no forno.
Na hora de atar, a agilidade é marca registrada da fumicultora, que faz parecer fácil o serviço manual. “Sempre pego entre duas e três folhas para fazer um nó, e então vou para o outro lado da vara e repito o processo, até não ter mais espaço. Com esse processo, o fumo fica mais firme e até vai mais do que numa vara atada com tecedeira. Como já faço isso a vida toda, parece bem fácil, mas requer um pouco de técnica”, brinca a agricultora.

Embora o processo seja lento, a qualidade do tabaco produzido na propriedade é um dos pontos principais pelo qual a família ainda opta pelo trabalho com os cavaletes. De acordo com Rogério, todos os anos ele mantém um padrão de secagem muito bom, o que faz seu tabaco render muito bem na hora da comercialização. “Como a gente consegue distribuir bem as folhas na vara, o calor consegue secar bem as folhas. Todos os anos eu consigo secar meu tabaco de forma muito boa”, destaca o irmão de Renato.

Legado

Mesmo com todas as dificuldades que a cultura do tabaco impõe as agricultores, a família Kistenmacher se mostra muito feliz em poder continuar trabalhando, e ainda, preservando um modelo que muitas pessoas da região vivenciaram durante a sua vida. “Para nós, além de ser de onde tiramos nosso sustento, é uma forma de preservar o que nossos antepassados fizeram. Temos muito orgulho de nossa origem, e enquanto tivermos forças, vamos continuar trabalhando para garantir o nosso sustento”, concluem os familiares.



Rádio e TV Imigrantes Dom Feliciano

Fonte e fotos: Portal Arauto

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