Imagem: Pixabay

Produtor de Vila Arlindo plantou 170 mil pés nesta safra

Que o clima anda estranho, ninguém tem dúvida. Não apenas pelos extremos, como tem sido os verões com estiagem, mas nesta primavera, por exemplo, tem chamado atenção os dias com baixas temperaturas. Não é o mesmo frio do inverno, claro, mas as marcas do termômetro estão diferentes do que nos acostumamos em temporadas anteriores. E é esse ‘friozinho’ que vem atrapalhando a principal cultura agrícola de Venâncio Aires, o tabaco.

Na prática, a planta precisa de mais sol e calor para se desenvolver bem, mas o clima não tem contribuído. Como consequência, os produtores se queixam do excesso de brotos nos pés, menos folhas e atraso na colheita.

Essa condição tem impactado, principalmente, produtores que plantaram entre junho e julho, no chamado período ‘do cedo’. Segundo o chefe da Emater local, Vicente Fin, toda vez que a temperatura fica abaixo de 15 graus, é reduzida a produção de fotoassimilados (compostos resultantes da fotossíntese), ou seja, diminui as fontes que condicionam o crescimento. “Esse tabaco de junho e julho está sofrendo, sim. Vai ter menos ‘alimento’ para a planta crescer e depositar substâncias nas folhas, o limbo folhar fica menor e deixa de abrir as folhas de cima. A planta produz menos corpo.”

Ainda assim, Vicente Fin diz que é precoce falar em redução, já que na média final da produção, o tabaco plantado mais tarde (agosto) pode compensar uma eventual perda anterior.

Mais brotos, mais trabalho

“É pior que mexer no baixeiro.” A definição é de Helio Arnoldo Sehn, 64 anos, ao relatar a dificuldade para lidar com o excesso de brotos nas bases das plantas. Esse brotos até renderiam um pé mais encorpado, mas, com a falta de sol, não desenvolveram o suficiente e as folhas ficaram pequenas e finas, fáceis de quebrar. “Plantamos em junho, mas tivemos muita chuva e frio. Faltou calor na hora que a planta mais precisava. Aí deu muito ‘brote’ e muito mais trabalho para tirar, o que nos atrasou um pouco. Aqui na região, todos estão se queixando”, destacou Sehn, que mora em Vila Arlindo.

Conforme o agricultor, a colheita começou em 12 de setembro, mas poderia ter sido antecipada em duas semanas, contando com a ‘normalidade’ do tempo. Apesar de o clima ter atrapalhado a organização inicial, de forma geral, Helio Sehn está satisfeito com o que vê na lavoura. “As folhas estão bonitas e estamos contando com a qualidade. Por isso também plantamos antes, para fugir do calor de dezembro e janeiro e porque nos últimos anos esse fumo está tendo mais qualidade.”

Nos últimos quatro anos, a família Sehn tem plantado uma média de 170 mil pés por safra.

Produtividade em risco? O que diz a Afubra

Embora considere precoce projetar qualquer cenário futuro, fato é que a Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra) está atenta à situação. “Nosso pessoal que vai a campo tem visto e traz essas mesmas impressões: além do frio extensivo, tem tido pouco sol. Dias muito nublados, o que prejudica o desenvolvimento pleno do tabaco, assim como para qualquer planta”, relatou o tesoureiro da Afubra, Marcilio Drescher.

Ele explica que isso não deve trazer maiores prejuízos na qualidade da folha, mas pode impactar na produtividade, ou seja, no total colhido até o fim da safra. “Tem muitos pés que parecem um ‘pinheirinho’. Ao invés de dar umas 24 folhas, chega em 14 e já sai a flor. Se tivesse um clima normal, desenvolveria mais, então a produtividade pode sim ser afetada. Mas o tabaco é uma planta que, em condições favoráveis, reage rapidamente, então vamos ver como se comporta o que foi plantado mais tarde.”

Menos folhas

As folhas a menos mencionadas pelo tesoureiro da Afubra também são realidade na lavoura de Roni Frese, 57 anos, morador de Centro Linha Brasil. “Na maioria dos pés, comparado a outros anos, está faltando folha”, informou o agricultor.

Assim como na propriedade dos Sehn, em Vila Arlindo, os brotos em excesso também atrapalharam o produtor do 5º distrito. “Dá para dizer que o fumo de julho é o que mais sofreu. O clima não favoreceu, muitos pés ficaram parados e só veio ‘brote’. E para tirar isso, é um serviço complicado, que atrasa. As folhas, em si, também não estão normais”, afirmou.

Nesta safra, Roni Frese, a esposa, a filha e o genro plantaram 70 mil pés.

2,3 toneladas/hectare – é a estimativa de produção em Venâncio na safra 2022/23.

Números

• A safra de tabaco 2022/23 em Venâncio Aires tem uma projeção de 8,8 mil hectares plantados (200 a mais que na temporada anterior), os quais devem produzir 20,24 mil toneladas – crescimento de 4,6% no comparativo com 2021/22.

• Quanto à contribuição dentro do Valor Bruto da Produção Agrícola (VBPA), considerando a safra 2021/22 (cuja venda já encerrou), foram R$ 270.947.465,59 – aumento de 52% em relação ao ano passado. Os dados são da Emater.

Fonte: Folha do Mate/Portal Agrolink


Deixe seu Comentário