A Região Carbonífera foi o berço da produção
comercial de melancia e o município de Arroio dos Ratos, por muito tempo,
ostentou o título de capital nacional da melancia. Nos tempos atuais a região mantém
se como referência neste cultivo e contribui, junto com outras regiões gaúchas,
na maior produção nacional da melancia, que gira em torno de 220 mil toneladas.
Deste total, em torno de 85% é comercializado em outros estados. Atualmente a
atividade é desenvolvida por aproximadamente de 30 famílias de agricultores que
cultivam cerca de 450 hectares da fruta em Arroio dos Ratos.
A redução da área de cultivo no município
fez-se principalmente pela redução da oferta de terra, consequência da grande
área ocupada pela floresta de eucalipto e, nos últimos anos pela lavoura de
soja, que modificou a matriz produtiva rural e trouxe novos desafios para o
produtor de melancias.
Neste novo cenário, o sistema de produção
convencional, baseado na rotação da área de cultivo, não consegue competir com
as outras atividades agropecuárias, que são mais rentáveis para o proprietário
rural. Assim, a produção de melancia acaba sendo praticada em áreas marginais, com
solos de menor fertilidade, maior dificuldade de manejo imposta pela topografia
e também dificuldade de acesso, o que repercute em menor produtividade,
dificuldade de escoamento da safra e maior custo de produção.
Frente a dificuldade de se conseguir solo com
qualidade para o plantio e de haver a disponibilidade de terras para arrendamento
anual que estejam em pousio, surgiu a necessidade de rever o sistema de
produção utilizado e de se começar a repetir o cultivo na mesma área, tanto com
preparo convencional do solo como fazendo o plantio direto sobre palhada. Esses
dois sistemas de cultivo estão sendo testados por alguns produtores de Arroio
dos Ratos há alguns anos e os erros e acertos registrados em cada safra, estão formando
um referencial prático. “Concluímos até agora que, superados alguns entraves de
ordem técnica, algumas soluções já foram encontradas e contribuem para a
superação de problemas presentes na cadeia produtiva da melancia”, ressalta o
extensionista da Emater/RS-Ascar, Jamir Dalenogare.
A Emater vem acompanhando o esforço desses produtores
e busca subsídios técnicos para contribuir com o desenvolvimento dessa nova
forma de cultivo. Com este objetivo foi feita uma parceria com a Ufrgs para
realização de pesquisa a respeito do plantio direto de melancia sobre palhada,
com repetição de área de cultivo, utilizando um espaço cedido por um produtor.
Durante um período de três anos foram coletadas informações sobre
desenvolvimento de plantas, produtividade, controle de plantas invasoras e
controle fitossanitário relacionadas ao volume de palhada no solo, que
contribuíram para o entendimento do processo e aprimoramento desta nova
técnica.
As descobertas acadêmicas dão conta que, por
exemplo, com temperatura do solo inferior a 18ºc a muda de melancia não
desenvolve suficientemente o sistema radicular e que volumes superiores a 4.500
kg de palha/hectare em cobertura não são favoráveis para desenvolvimento inicial
da muda de melancia plantada no sistema de plantio direto, em razão da dificuldade
de aquecimento do solo. No entanto, sabe-se que que uma boa cobertura de palha
sobre o solo é fator essencial para inibir o surgimento de plantas invasoras,
aspecto muito importante na condição de plantio direto, onde não se pratica a
capina mecânica e não é possível fazer a química sem afetar a planta cultivada.
Esse dilema técnico e de difícil solução, direciona
os estudos para um terceiro modelo de produção, entre o sistema convencional e
o plantio direto, onde se intensifica a produção de palha para fazer o controle
de plantas invasoras nas entrelinhas (faixas com 2,5 a 3,0 metros) e se faz o
cultivo mínimo na linha de plantio (faixa com 0,20 a 0,40 metros), criando uma
faixa de exposição do solo para a elevar a temperatura e favorecer o
desenvolvimento da muda.
Em complemento a esta mudança de paradigmas
do sistema de produção, posta como uma alternativa viável para a manutenção do
cultivo comercial familiar de melancias, está a adoção de irrigação por gotejamento,
tecnologia que vem sendo adotada gradativamente pelos pequenos produtores face
os excelentes resultados na produtividade das lavouras e baixo consumo de água
e energia, o que possibilita a nutrição da planta com maior eficiência.
“Entendemos que a produção comercial familiar
de melancia, na luta pela sobrevivência, inicia um movimento de transição e
redesenho do sistema de produção forçado pelas circunstâncias adversas que afetam
a cadeia produtiva e comercial”, ressalta Dalenogare.
O extensionista analisa que permanência
desses pequenos agricultores na atividade está condicionada a adequação a esta
nova realidade imposta, ou seja, dificuldade de acesso à terra, necessidade
de planejamento do sistema de produção, escassez
de mão de obra no campo e mais segurança no acesso ao mercado. Segundo ele,
neste cenário, o sistema de produção convencional perde espaço e exige sistemas
de produção mais racionais e eficientes, cujo a ordem é plantar e gastar menos,
produzir mais e com mais qualidade e vender melhor.
ENCONTRO PARA DISCUSSÃO DA CADEIA PRODUTIVA DA MELANCIA -
O Cultivo de Melancias na Região será discutido no 2º Seminário
Microrregional que acontece dia 31 de maio (terça-feira), a partir das 9h, em Arroio
dos Ratos. Este evento tem como foco o debate sobre o redesenho do sistema de
produção, com palestras voltadas a capacitação dos produtores para a adoção de
tecnologias de produção que garantam economia de insumos, segurança de
produção, qualidade dos frutos e aumento da produtividade. O evento será
realizado pela Emater/RS-Ascar, como apoio da Prefeitura Municipal, Ufrgs e Embrapa.
Quer participar deste evento ou saber mais
sobre este assunto, entre em contato com o escritório mais perto de você.