O Tribunal do Júri absolveu
a mulher de 36 anos que dopou e incinerou o marido em Dom Feliciano. Em breve,
o alvará de soltura deverá ser expedido. O julgamento ocorreu nesta
quarta-feira (27), no Fórum da Comarca de Camaquã. Elizamar de Moura
Alves Elizamar respondia por homicídio duplamente qualificado, ocultação
de cadáver e falsidade ideológica.
A
audiência começou por volta das 9 horas, foi presidida pelo juiz Daniel de
Souza Fleury e encerrou na noite. Representando o Ministério Público (MP)
estava o promotor Francisco Saldanha Lauenstein. Já a defesa era composta pelo
trio de advogados Marcos Antônio Hauser, Mikaela Schuch e Igor Roberto
Freitas Garcia. Sete pessoas compuseram o quadro de jurados do Conselho de
Sentença. Durante mais de 12 horas, foram ouvidas três testemunhas de
acusação e três de defesa, entre elas, a filha do casal. Houve ainda
o interrogatório da ré, os debates orais (com réplica e tréplica, se as
partes quiserem utilizar este tempo), votação e leitura da sentença pelo
juiz Fleury.
A defesa
defendeu a tese de que Elizamar havia sido vítima de violência doméstica ao
longo do casamento e que cometeu o crime por sua legítima defesa e de seus
filhos. A mulher confessou
o assassinato ao ser presa preventivamente, em maio do ano passado, e alegou
ter agiu sozinha. Ela deixou o Fórum e deve retornar para casa logo em seguida.
Erni
Pereira da Cunha, de 42 anos, foi dado como desaparecido em 15 de fevereiro de
2021, na localidade de Colônia Nova, interior de Dom Feliciano. A
esposa, Elizamar, chegou a registrar ocorrência sobre o desaparecimento na
Delegacia de Camaquã. Todavia, a polícia passou a desconfiar da mulher por
conta de várias informações de depoimentos dela que não coincidiam.
No
decorrer da investigação, a Polícia Civil descobriu que a mulher havia
pesquisado na internet, um dia antes do crime, sobre como matar uma pessoa
utilizando veneno. O casal estava junto há 21 anos e tinha dois filhos - um
rapaz de 20 e uma adolescente de 16 anos. Elizamar declarou que, após dopar o
companheiro, ela arrastou o homem, ainda com vida, para a estufa de
tabaco, que fica nos fundos da propriedade onde a família vivia. Nisso, colocou
o corpo na fornalha, onde ele ficou queimando por três dias.
Laudos do
Instituto-Geral de Perícias (IGP) de Pelotas encontraram fragmentos de ossos na
fornalha. A polícia chegou a prender preventivamente o filho mais velho
por suspeita de participação no crime. Mas, depois de alguns dias no Presídio
Estadual de Camaquã, ele foi liberado por falta de provas.
Os filhos
confirmaram as agressões e ameaças sofridas pela mãe durante depoimentos
colhidos para o inquérito. Todavia, a polícia não identificou nenhum
registro de violência doméstica contra o homem. Outras possíveis
motivações para o crime foram apontadas, como o fato de que Erni costumava
beber, e a descoberta de que ele mantinha um caso extraconjugal, mas a
investigação não reuniu provas suficientes que sustentassem essas hipóteses.